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O estranho que veio viver conosco

“Todo aquele que ouve essas minhas palavras e não as pratica será como um homem tolo, que construiu sua casa sobre a areia. E caiu a chuva, vieram as inundações, e os ventos sopraram e bateram contra aquela casa, e ela desmoronou, e foi grande a sua queda.”” – Mateus 7:26, 27.

Uma vez, no passar do tempo, quando eu era relativamente jovem, meu pai conheceu a um estranho que não tinha nada a ver com nossa maneira de viver.

Éramos uma família cristã com uma rotina espiritual que deixava pouco lugar para outras coisas, aparte de nossas reuniões de congregação, o estudo pessoal e em família e muita atividade de pregação.

Desde o início, papai se mostrou fascinado com esse novo conhecido. Como muitos de nossos amigos o recebiam em seus lares e o víamos em tantas reuniões sociais, logo parecia bom papai convidar a esse encantador estranho a viver em família conosco. Ninguém achou ruim vê-lo ocupar um lugar em nosso lar. Papai e mamãe eram nossos instrutores. Mamãe nos ensinou a amar a Palavra de Deus, e papai nos ensinou a obedecê-la.

Mas, era o estranho que nos contava todo tipo de histórias, aventuras, mistérios e também coisas divertidas. Ele tinha a virtude de nos atrapalhar e manter toda a família fascinada cada noite.

Sabia de tudo: história, ciência e política. Se dava ares de superioridade de entender corretamente o passado, o presente e o futuro. Conhecia a arte de entretenimento e atuava como um verdadeiro amigo da família.

Nosso hóspede era um charlatão incansável. Papai não tinha nada contra, especialmente depois de um dia complicado na oficina ou de um dia inteiro na pregação.

Mamãe, por outro lado, se levantava sem dizer nada e ia para um canto sossegado orar e ler a Bíblia, enquanto a família permanecia ali, deslumbrada por alguma história de terras longínquas.

Suspeito que alguma vez tenha orado para que o estranho abandonasse nossa casa, ou, pelo menos, que tivesse um lugar menos importante nela.

Papai sempre foi insistente em suas convicções morais ao dirigir nossa família, mas o estranho não demonstrava nenhum respeito por suas ideias. Nunca nos permitiu usar linguagem profana, mas às vezes o estranho usava palavras que me queimavam os ouvidos. Que eu saiba, ninguém o reprovava nem o corrigia.

Meu pai era um inimigo declarado do álcool e não tolerava que ele entrasse em nossa casa. Mas o estranho pensava que precisava ‘iluminar-nos’ para que aprendêssemos a viver de outra maneira. Nos oferecia cerveja e todo tipo de bebidas. Nos dizia que os cigarros eram muito saborosos e que fumar em cachimbos era de muita classe.

Falava muito livremente sobre sexo, especialmente sobre o conceito moderno do sexo ilícito. Seus comentários eram atrevidos, demasiados sugestivos e perturbadores. Notei que estavam me influenciando adversamente e tentando mudar o conceito bíblico do sexo como um dom de Deus que deve ser usado de acordo com suas leis. O estranho se opunha sutilmente aos valores morais que meus pais sempre haviam defendido; no entanto, ninguém lhe retrucava.

Costumávamos sentar todos próximos para ler, desenhar, pintar, conversar, brincar com os mais diversos jogos e comer pipoca. Aos poucos, ele nos mostrou que era melhor cada um ter sua própria cadeira, seu próprio espaço. Todos juntos, mas cada um com sua vida independente e privativa.

Com o passar dos anos, vimos nosso corpo envelhecer e nossas energias diminuírem, mas ele, incrível como o seja de acreditar, está cada vez mais bonito, com seu corpo sarado e bem definido, com energia renovada. Com seu sarcasmo disfarçado, reflete nosso rosto envelhecido em seu semblante maquiado e nos ilude a ver uma realidade que não é para este tempo.

Está a maior parte do tempo conosco, esperando que lhe demos de nosso precioso tempo diário e, se nos esquecemos ou demoramos em lhe dar atenção, ele nos faz agir de imediato com seu tilintar. Papai e mamãe precisavam nos mandar várias vezes a fazer algo e ainda o fazíamos a contragosto. A esse estranho, basta seu sereno tilintar para nos apresentar como escravos a fazer seus caprichos… e sorrimos satisfeitos (enquanto rouba o que de direito pertence a quem amamos. Ele é o estranho; mas nos faz agir como se fosse o centro de tudo.)

Levou um tempo para dar-nos conta de que ele roubava nossas energias e nos iludia crer em suas fantasias que estávamos dividindo com outros que necessitavam o que de melhor valor possuíamos. Quando, por fim, resolvemos invadir o quarto onde ele vivia, dormia e guardava tudo o que recebia de nós: um quarto vazio, com paredes, teto e soalho apodrecidos. Não tivemos mais dúvidas então sobre seu caráter e identidade.

Ops… acabei de me dar por conta de que não lhes disse seu nome. Se chama “Dispositivo Eletrônico de Comunicação”, mas preferíamos chamá-lo pelos muitos apelidos que carinhosamente ganhou com passar do tempo: TV, televisão, computador, notebook, iPad, celular, whatszap, internet, facebook, xbox, videogame, …


““Portanto, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as pratica será como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. E caiu a chuva, vieram as inundações, e os ventos sopraram com força contra aquela casa, mas ela não desmoronou, pois tinha sido fundada sobre a rocha.” – Mateus 7:24, 25.

“Estejam bem atentos para não andarem como tolos, mas como sábios, usando o seu tempo do melhor modo possível, porque os dias são maus.” – Efésios 5:15, 16.

“Prossigam andando com sabedoria para com os de fora, usando o tempo do melhor modo possível.” – Colossenses 4:5.

“Assim, Jeová viu que a maldade do homem era grande na terra e viu que toda inclinação dos pensamentos do seu coração era só má, todo o tempo. Jeová lamentou ter feito os homens na terra, e seu coração se entristeceu” – Gênesis 6:5, 6.