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Daniel: Uma História de Fé (1/2)

“Ó Daniel, homem muito precioso.” – Daniel 10:11.

Um dos pontos altos de nosso Congresso Regional de 2021 – “Poderosos pela fé” sem dúvida foi a história de Daniel e seus três amigos que foram levados cativos a Babilônia ainda na adolescência. Envelheceram na terra de seus inimigos mas sem deixar que lhe roubassem o seu maior tesouro: a adoração pura do seu Deus, Jeová. Passaram as mais duras provas e não renunciaram à sua fé. Estiveram em uma situação similar a de tantas crianças testemunhas de Jeová que foram arrancadas de seus lares debaixo do regime nazista e dos países comunistas durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos desses jovens nunca voltaram a ver seus pais até o fim da guerra. Quantos deles se aferraram heroicamente a tudo o que haviam aprendido e saíram das provas refinados para ser colocados como colunas na congregação do povo de Deus! Durante o próximo milênio, milhões de olhos apreciativos lerão as inscrições que eles fixaram nas muralhas do tempo pelo seu belo exemplo.

Muito tempo, esforço e pesquisa nas publicações da Torre de Vigia foram gastos para escrever esta carta para ti, e tu, espero, também dedique tempo para lê-la. As publicações do escravo fiel e prudente são uma verdadeira mina de ouro para quem se aventura a minerar fundo suas riquezas. “Dê instrução ao sábio, e ele se tornará mais sábio”, diz Provérbios 9:9.

Quando duas pessoas dedicam tempo uma a outra estão dando uma prova de carinho, porque qualquer outra coisa que gastemos em favor dos demais se pode repor, mas o tempo não recuperamos nunca. O tempo é um dos fundamentos insubstituíveis da amizade.

Daniel, sua vida e desafios, sua perseverança e resultados, tocam nosso coração a ponto de sentirmos um relacionamento de amizade com ele como nunca tivemos antes. O que mais podemos aprender do relato bíblico de Daniel? Como a arqueologia fundamenta esses acontecimentos? Como isso deveria influenciar sua vida? E, finalmente, quem é Daniel para você, após ler o relato em primeira pessoa que se segue? Encontre as respostas a essas quatro perguntas em…


Daniel: Uma história de fé

“Esta noite me sinto especialmente inclinado a refletir as muitas coisas que pesam em meu coração e com frequência me jogam para fora da realidade presente e me obrigam a reviver o passado, talvez tentando entender muitas coisas que ficaram sem respostas. (Daniel 12:8)

Recordo, vez após vez, do rei Nabucodonosor e as grandes lições que teve de aprender sobre o Deus dos hebreus, Jeová, e como, de uma maneira muito sábia, Ele aplacou sua arrogância e rebeldia.

Quando o rei Nabucodonosor estava em Babilônia, seus dias eram muito ocupados com os assuntos da grande nação, reuniões militares, magos, adivinhos e conselheiros; planejar e vigiar o andamento das grandes obras de edificação que tanto o apaixonavam; organizar acontecimentos culturais e artísticos, assistir a festas religiosas e dividir sua atenção entre suas muitas esposas e concubinas que tinha no palácio. Uma dessas esposas era egípcia e sua filha se chamava Nitócris, mesmo nome da mãe. (Perspicaz)

De vez em quando, Nabucodonosor mandava chamar sua família para passar algum tempo com eles, somente de vez em quando… Esse era um dia de festa para seus filhos. Os servidores do palácio os preparavam e os conduziam a sua presença. Ele lhes falava sobre o poderio do império, das obras de edificação com que desejava embelezar Babilônia, das fortificações que a faziam invencível. Inculcava em seus filhos o patriotismo, o dever de conservar e defender tudo aquilo que seus antepassados haviam realizado e conquistado. Era um privilégio para eles viver em Babilônia, também conhecida como ‘o centro do mundo’.

Como isso se contrastava com minha infância e minha família! Quando pequeno meu pai e minha mãe tinham todo o tempo do mundo para me ensinar sobre Jeová e sua glória e falavam sobre coisas espirituais quando estávamos sentados em casa, ou andando pela estrada, e ao deitar e ao levantar. Sempre havia uma oportunidade para enaltecer a Jeová e aprender a amar suas leis. (Deuteronômio 6:4-7)

Os filhos do rei Nabucodonosor estavam bem contagiados pelo orgulho de pertencer a esta Babilônia fundada por Ninrode, cujo templo, o mais importante, estava em Esagila, onde adoravam seu falso deus Marduque. Ali, no meio dessa terra considerada ‘santa’, está Etemenanki, a torre que Ninrode não pode terminar por causa da confusão das línguas, mas que muito tempo depois foi terminada por Nabucodonosor e reverenciada como uma grande relíquia. Etemenanki, que significa “casa de fundação do céu e da terra”, em caldeu, foi completada com um zigurate no topo, uma torre quadrada, escalonada, cada piso tendo uma superfície menor que a de baixo, terminando em uma estrutura pequena que abriga um templo. (*Registros e inscrições encontrados a respeito de tais templos frequentemente contêm as palavras: “Seu topo atingirá os céus”, e o Rei Nabucodonosor é registrado como dizendo: “Ergui o topo da Torre escalonada em Etemenanki, de modo que seu topo se rivalizasse com os céus.”)

Vi de primeira mão como o orgulho nacionalista afetaram meu povo. Jerusalém, onde estava o grande templo de nosso Deus, a mais enaltecida das cidades, representava o lugar em que o Deus verdadeiro escolhera para construir Sua casa para lhe prestarmos a adoração pura, de coração; adoração esta que fora manchada pela desobediência geral e se tornara mera formalidade ritual misturada com o vinho da idolatria. Nosso povo esqueceu… e perdeu o favor de Jeová; por isso fomos levados cativos a Babilônia. Profunda tristeza para alguns; oportunidade para outros que iriam morar em Babilônia, ‘o centro do mundo’, e comer à mesa do rei Nabucodonosor.

Em Babilônia, a religião sempre está ligada à história e às conquistas, por isso no templo de Marduque, em Esagila, se depositam os mais valiosos despojos das nações conquistadas, junto com os troféus dados aos vencedores e as armas que pertenceram aos guerreiros mais proeminentes caídos em batalha. Você pode pensar que é um lugar interessante e curioso de se ver, talvez como um museu onde estão expostos artigos nunca visto antes de todos os povos que foram extintos; mas para mim, é um lugar que causa angústia no coração e traz tristes recordações cada vez que a vejo, porque é para lá que foram levados os vasos de ouro e de prata que haviam pertencido ao templo de Jeová, meu Deus, despojado quando Nabucodonosor conquistou Jerusalém. Estavam ali, os utensílios sagrados, jogados e misturados aos tesouros e itens das muitas religiões idólatras das nações conquistadas, como se valessem tanto quanto estes; uma recordação de mais um deus vencido e humilhado, como eles gostam de dizer. “Pois ali os nossos captores nos pediram uma canção; os que zombavam de nós queriam que os divertíssemos: “Cantem-nos uma das canções de Sião.” Como podemos cantar a canção de Jeová em solo estrangeiro?” (Salmo 137:3-4)

Nos melhores dias de Babilônia chegam barcos de toda a terra habitada para descarregar seus produtos; é um cruzamento para o comércio internacional; um enorme depósito de tudo o que se produzia de melhor em todos os lugares. Em ambas as margens do rio Eufrates, dentro da capital, havia docas onde esses barcos atracavam. Também a frota de barcos de Babilônia era enorme: três mil galeras que dá sempre para ver em movimento, impulsionadas por velas e por remos. Em tempos de paz estes barcos estão bem envolvidos no comércio, em tempos de guerra trazem e levam soldados e abastecem as tropas com o que necessitam.

Além dos grandes barcos que trafegam o Eufrates se veem muitas embarcações pequenas navegando nos canais que atravessam a cidade e o campo. É uma grande rede hidrográfica que leva água para todos os lugares e asseguram a irrigação e a produtividade da terra. Os pequenos barcos com produtos importados ou com a produção local param nos escritórios do governos que, em ambas margens do rio, fixam o preço dos produtos. A taxação normal segundo a lei é de 20%. Mas algumas vezes funcionários corruptos tentam ganhar até 40% sobre os produtos. Naturalmente, quando apanhados em flagrante a lei lhes é muito severa correndo o risco de pena de morte.

É bonito ver o que esses armazéns ambulantes levam entre cevada, milho, tâmaras, figos e romãs que a terra produziu em abundância. Obras atraentes de artesanato, cestas, vasos, sandálias, mantos e ornamentos femininos. Tudo desperta o interesse de compradores passeando ao longo do rio. Com certeza encontrarão qualquer coisa lá que precisem ou apenas para saciar seu ego materialista.

A abundante produção da terra desses últimos anos e as técnicas de conservação dos alimentos que foram desenvolvidas dão a cidade um sentimento de segurança diante de qualquer emergência que apareça. O governo e o exército afirmam que Babilônia poderia resistir um sítio de 20 anos numa guerra.

Essa é uma preocupação que não tínhamos em nossa linda terra, em Jerusalém, porque “a salvação dos justos vem de Jeová; Ele é a sua fortaleza no tempo da aflição. Jeová os ajudará e os livrará. Ele os livrará dos maus e os salvará, porque se refugiam nele.” (Salmos 37:39-40) Claro, pela desobediência da nação, Jeová foi obrigado a nos disciplinar, como todo pai amoroso faria com seus filhos, e viemos parar neste lugar. Mas tenho certeza de que ele não nos abandonou totalmente e que nos levará de volta para nossa terra um dia. Mas pelo que ouvi o profeta Jeremias dizer, levará setenta anos até que isso aconteça. (Jeremias 29:10) Já fazia alguns anos que eu fora levado cativo à Babilônia e trabalhava no palácio do rei quando Jerusalém caiu diante de Nabucodonosor, em 607 AEC. Foi nesse ano que começaram a contar os longos 70 anos…

A jactância de Babilônia, proclamando-se a si mesma como cidade invencível, se baseia na estrutura de seu muro duplo, diferente de qualquer outra cidade do mundo. Outro dia fui ver de perto como era.

A fortificação interna, construída de tijolos de barro, consistia em duas muralhas. A muralha interna tinha 6,5m de grossura. A muralha externa, situada a 7m de distância, tinha cerca de 3,5m de espessura. Estas muralhas eram reforçadas por torres defensivas, que também serviam para reforçar a estrutura das muralhas. A uns 20m fora da muralha externa, havia um cais feito de tijolo cozido, assentado em betume. Fora desta muralha havia um fosso ligado ao Eufrates ao N e ao S da cidade. Este fornecia tanto suprimentos de água como proteção contra exércitos inimigos. Existem oito portões que dão acesso à cidade. (*Até agora, descobriram-se e escavaram-se quatro dos portões de Babilônia.)

A fortificação externa ao L do Eufrates foi acrescentada por Nabucodonosor II (que destruiu o templo de Salomão), cercando assim uma grande área da planície ao N, ao L e ao S, para que aqueles que vivessem perto pudessem fugir para ali em caso de guerra. Esta fortificação externa também consistia em duas muralhas. A muralha interna, feita de tijolos não cozidos, tinha cerca de 7m de espessura e estava reforçada com torres defensivas. Mais além dela, a uns 12m, havia a muralha externa de tijolos cozidos, feita em duas partes, interligadas pelas suas torres: uma tinha quase 8m de espessura, e a parte anexa tinha cerca de 3,5m de espessura.

Nabonido ligou as extremidades da fortificação externa por construir uma muralha ao longo da margem oriental do rio. Esta muralha tinha cerca de 8,5m de espessura e também tinha torres, bem como um cais de 3,5m de espessura.

Dos seus muros, as sentinelas realizam uma vigilância extensa e contínua. Os habitantes de Babilônia acreditam que ninguém poderá tomar a cidade de surpresa e que nenhum poder humano é capaz de humilhar “Babilônia, a Grande Cidade”.

O pai de Nabucodonosor, Nabopolassar foi quem começou a construção dessas muralhas e Nabucodonosor, seu filho, a terminou. Ele também criou algo novo em Babilônia: os jardins suspensos que deram um aspecto especial ao palácio real. Em seus terraços escalonados cresciam árvores, arbustos e uma variedade maravilhosa de flores, criando um efeito de montanhas cobertas de vegetação. Pelas escadas de mármore pode-se passar de um terraço a outro. Muitos escravos trabalham sempre ali, por turnos, movimentando um sistema de engrenagens que levam a água do Eufrates a 91 metros de altura, onde está o último terraço e os grandes depósitos de água. De lá ela desce irrigando os terraços inferiores que começam a 23 metros de altura do solo. O rei planejou esses jardins maravilhosos para fazer a rainha Amytis feliz, uma princesa meda que ele tomou por esposa. Quando ele a trouxe para o palácio, ela se sentiu desiludida com as terras planas de Babilônia e suspirava pela região montanhosa da Média. Os jardins suspensos foram o modo dele deixá-la feliz. (Despertai!, 22/11/76, p.13)

Antes de vir ao palácio do rei para ser instruído como sábio, meu pai me deu de presente um pergaminho para que eu sempre tivesse as palavras de Jeová comigo e nunca me esquecesse delas. O Salmo 72:18-19 diz: “Louvado seja Jeová Deus, o Deus de Israel, o único que faz coisas maravilhosas. Que o seu glorioso nome seja louvado para sempre e a sua glória encha a terra inteira.” Sim, todo empenho humano em construir grandes coisas não se compara ao que o Deus de Israel fez. Ele não fixa tabuletas para registrar seus direitos autorais, nem precisa constantemente se gabar dos seus feitos para lembrar a outros do que ele fez. Sem dizer nada, Jeová nos enche de espanto reverente e nos deixa sem palavras de admiração. Sim, “somente ele faz grandes maravilhas”. – Salmo 136:4.

À parte dessas magníficas obras de engenharia, do palácio real, das cidadelas onde moravam os mais proeminentes militares com seus oficiais, dos muros e dos jardins suspensos que eram um espetáculo para os visitantes estrangeiros, o rei mandou construir um palácio de verão às margens do rio Eufrates, dois quilômetros ao norte da capital. Para protegê-lo, levantou uma segunda muralha que se estendia desde o sul, abrangendo grande parte da zona rural. Em caso de alguma ameaça sempre poderíamos voltar à capital supostamente invencível, com seu muro duplo, seu exército bem equipado e suas torres de vigilância onde os arqueiros podiam descarregar uma chuva de flechas contra qualquer possível invasor.

O rio Eufrates que o cruza tampouco representa um perigo. Em torno de suas margens também levantaram muros fortificados e tem 25 portas de bronze de duas folhas, duplas, que descem profundamente na água do rio e são protegidas por enormes barras de ferro. É impossível abrir por fora. Por isso os babilônios riam das palavras de Jeová sobre os dias já marcados para sua queda. Quem se preocupava que os persas estivessem abrindo um canal para desviar a água do Eufrates? Ainda que conseguissem secar o leito do rio, não encontrariam maneira de entrar em Babilônia, a grande cidade. Mas o impossível estava para acontecer…

Nabonido, esposo de Nitócris e genro de Nabucodonosor, que lhe falei no início desta carta, estava no sul, em Tema, uma cidade da Arábia que ele mesmo havia conquistado no seu terceiro ano de reinado e a transformara em uma segunda capital do império. Em seu lugar, Nabonido designou seu filho primogênito Belsazar como encarregado de Babilônia durante sua ausência. Seu amor pelas letras e pelas artes o levou a fugir da agitação da capital, deixando para trás os muitos compromissos e obrigações do Estado. Quando Belsazar, seu primeiro filho, tinha idade suficiente para substituí-lo no trono, Nabonido ficava em Tema por longos períodos de tempo, sabendo que sua esposa Nitócris apoiaria seu filho e que ele tinha bons colaboradores entre nobres e militares.

Leia a conclusão desse relato em “Daniel: Uma História de Fé” parte 2.


“O rei então ordenou a Aspenaz, principal oficial da corte, que trouxesse alguns israelitas, incluindo os de descendência real ou nobre. Deveriam ser jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, dotados de sabedoria, conhecimento e discernimento, capazes de servir no palácio do rei. Ele deveria lhes ensinar a escrita e a língua dos caldeus.” – Daniel 1:3, 4.